O relógio cravava seis horas da manhã do domingo (12/6), os raios solares já apareciam, quando dona Maria Madalena Silva, aos 63 anos, resolveu parar de dançar na festa de celebração dos 15 anos do assentamento Califórnia, situado entre os municípios de Açailândia e Imperatriz, no Maranhão.
“Homem, não perco um ano dessa festa do Califórnia. Já é tradição para nós”, conta suspirando. Ela integrava um grupo de idosos vindos de Açailândia, que passou a noite do dançando no assentamento ao ritmo do forró maranhense, junto a centenas de pessoas vindas das proximidades para o festejo.
Dona Maria Madalena não estaria usufruindo da quadra do assentamento, um espaço de convivência para os assentados e população local, se 200 famílias não tivessem ocupado a fazenda Califórnia, em 25 de março de 1996, conquistando 7.000 hectares de terra.
Mais de 300 crianças e adolescentes não estudariam hoje na escola municipal Antonio de Assis, construída no assentamento. “Nossa, quando chegamos aqui só tinha boi”, diz o assentado Gervazio de Souza, que mora no local há 15 anos.
Para Nonato Masson, da seção do Maranhão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), persiste uma “situação nefasta” no Maranhão em relação à produção agrícola camponesa, com a manutenção da estrutura agrária latifundiária. “São aproximadamente seis milhões e meio a população no Maranhão contra aproximadamente sete milhões de cabeça de gado”, afirma.
Produção
Se antes a pecuária predominava na antiga fazenda Califórnia, atualmente seu Gervazio e a maioria dos assentados produzem milho, arroz, mandioca e hortaliças para subsistência e venda para as feiras dos municípios próximos. “Criei meus nove filhos com os frutos desse chão, antes eu passava dificuldade como carroceiro na cidade”.
Muito distante dali, as famílias paulistanas não imaginam que o colorante que utilizam no preparo de suas refeições é oriundo do assentamento Califórnia. “Estimamos que vá para São Paulo mensalmente cerca de 70 mil quilos do colorante que é derivado do fruto do Urucum”, revela o assentado e produtor Paulo da Silva.
A conquista da terra mudou a vida de Paulo: “não só melhorou para mim que não tinha onde plantar, mas para todos, pois as terras que antes eram de um, hoje foi dividida para 180 famílias”.
Foco de resistência
Não só o boi que empesteia o Maranhão; o eucalipto é outra ameaça. Segundo dados da Unidade Regional da Agência de Defesa Agropecuária do Maranhão (Aged), a região tem uma área plantada de eucalipto estimada em 55 mil hectares, distribuída entre os municípios de Açailândia, Itinga do Maranhão, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Bom Jardim, Imperatriz, São Francisco do Brejão, Cidelândia, Vila Nova dos Martírios e São Pedro da Água Branca. A produção é toda voltada para as indústrias siderúrgicas e de celulose.
Só a mineradora Vale detém na região mais de 40 mil hectares de eucalipto plantados, voltado a produção de carvão a ser utilizado nas siderúrgicas na região, onde o minério é transformado em ferro-gusa.
Parte dessa plantação de eucalipto cerca o assentamento Califórnia. Por isso, em março de 2008 aproximadamente 800 mulheres protestaram contra as carvoarias, cortando árvores de eucalipto às margens da BR 010. As mulheres também interditaram a via para distribuição de um informativo sobre as conseqüências da expansão do plantio do eucalipto na região.
A cerca de 800 metros da Agrovila do Califórnia está instalado mais de 70 fornos industriais da carvoaria da Vale. “É o assentamento mais emblemático da região com relação aos conflitos com as grandes empresas, como a Vale e agora a Suzano Papel e Celulose. É foco de resistência contra o atual modelo”, observa Divina Lopes, dirigente do MST no Estado do Maranhão.
Se depender dos assentados, Maria Madalena continuará ainda por muitos anos dançando e encontrando na feira os produtos agrícolas advindos do assentamento, que disputam espaço no campo com o monocultivo de eucalipto e a pastagem para os bois. “Continuaremos dando vida a espaços que antes não tinham e garantindo o plantio para nossas famílias e para as feiras da cidade”, afirma seu Gervazio com um largo sorriso.
Fonte: MST
“Homem, não perco um ano dessa festa do Califórnia. Já é tradição para nós”, conta suspirando. Ela integrava um grupo de idosos vindos de Açailândia, que passou a noite do dançando no assentamento ao ritmo do forró maranhense, junto a centenas de pessoas vindas das proximidades para o festejo.
Dona Maria Madalena não estaria usufruindo da quadra do assentamento, um espaço de convivência para os assentados e população local, se 200 famílias não tivessem ocupado a fazenda Califórnia, em 25 de março de 1996, conquistando 7.000 hectares de terra.
Mais de 300 crianças e adolescentes não estudariam hoje na escola municipal Antonio de Assis, construída no assentamento. “Nossa, quando chegamos aqui só tinha boi”, diz o assentado Gervazio de Souza, que mora no local há 15 anos.
Para Nonato Masson, da seção do Maranhão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), persiste uma “situação nefasta” no Maranhão em relação à produção agrícola camponesa, com a manutenção da estrutura agrária latifundiária. “São aproximadamente seis milhões e meio a população no Maranhão contra aproximadamente sete milhões de cabeça de gado”, afirma.
Produção
Se antes a pecuária predominava na antiga fazenda Califórnia, atualmente seu Gervazio e a maioria dos assentados produzem milho, arroz, mandioca e hortaliças para subsistência e venda para as feiras dos municípios próximos. “Criei meus nove filhos com os frutos desse chão, antes eu passava dificuldade como carroceiro na cidade”.
Muito distante dali, as famílias paulistanas não imaginam que o colorante que utilizam no preparo de suas refeições é oriundo do assentamento Califórnia. “Estimamos que vá para São Paulo mensalmente cerca de 70 mil quilos do colorante que é derivado do fruto do Urucum”, revela o assentado e produtor Paulo da Silva.
A conquista da terra mudou a vida de Paulo: “não só melhorou para mim que não tinha onde plantar, mas para todos, pois as terras que antes eram de um, hoje foi dividida para 180 famílias”.
Foco de resistência
Não só o boi que empesteia o Maranhão; o eucalipto é outra ameaça. Segundo dados da Unidade Regional da Agência de Defesa Agropecuária do Maranhão (Aged), a região tem uma área plantada de eucalipto estimada em 55 mil hectares, distribuída entre os municípios de Açailândia, Itinga do Maranhão, Bom Jesus das Selvas, Buriticupu, Bom Jardim, Imperatriz, São Francisco do Brejão, Cidelândia, Vila Nova dos Martírios e São Pedro da Água Branca. A produção é toda voltada para as indústrias siderúrgicas e de celulose.
Só a mineradora Vale detém na região mais de 40 mil hectares de eucalipto plantados, voltado a produção de carvão a ser utilizado nas siderúrgicas na região, onde o minério é transformado em ferro-gusa.
Parte dessa plantação de eucalipto cerca o assentamento Califórnia. Por isso, em março de 2008 aproximadamente 800 mulheres protestaram contra as carvoarias, cortando árvores de eucalipto às margens da BR 010. As mulheres também interditaram a via para distribuição de um informativo sobre as conseqüências da expansão do plantio do eucalipto na região.
A cerca de 800 metros da Agrovila do Califórnia está instalado mais de 70 fornos industriais da carvoaria da Vale. “É o assentamento mais emblemático da região com relação aos conflitos com as grandes empresas, como a Vale e agora a Suzano Papel e Celulose. É foco de resistência contra o atual modelo”, observa Divina Lopes, dirigente do MST no Estado do Maranhão.
Se depender dos assentados, Maria Madalena continuará ainda por muitos anos dançando e encontrando na feira os produtos agrícolas advindos do assentamento, que disputam espaço no campo com o monocultivo de eucalipto e a pastagem para os bois. “Continuaremos dando vida a espaços que antes não tinham e garantindo o plantio para nossas famílias e para as feiras da cidade”, afirma seu Gervazio com um largo sorriso.
Fonte: MST
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